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Palavras do curador brasileiro

 

     A obra múltipla de Tadeusz kantor nunca esteve atrelada a formas, escolas ou estilos. Seu trabalho lidava com a essência do real, um real amplificado. Neste real imensidão, Kantor sobrepunha outras realidades - a dos textos, dos objetos, dos atores, dos espectadores, de toda e qualquer relação com o espaço e tempo, enfim.

Para Kantor, essa realidade agigantada não era somente uma fonte de inspiração: era o seu laboratório, onde toda e qualquer manifestação, concreta ou ilusória, transformava-se em ferramenta e objeto de experimentação. Os objetos deslocados de seu contexto, os textos reinventados pelos atores, as ações feitas por qualquer um dos espectadores  ou performers faz com que cada coisa mostre seu esgotamento. Uma operação de-significante que permite a estes elementos esgotados abrirem-se a outros significados, é da e pela sua a-significação que eles se tornam infindos.

Essas são algumas das premissas que nos levaram a compor a exposição Máquina Tadeusz Kantor. O espaço foi projetado a partir do mesmo princípio: sobreposta à estrutura de uma quadra de esportes, será construída uma outra. É no esvaziamento do significado, daquela que se criam perspectivas variadas, no qual o espectador submerge, desvenda e descobre a polifonia da obra deste artista visionário. É nessa espécie de labirinto que, plainando pelos seus níveis, seguimos desembrulhando e descobrindo a gigantesca embalagem de ferro que encobre e combate o desenho amorfo e desconexo de uma quadra de esportes nosso mundo enquadrinhado de regras.

 

   A exposição compõe-se, enfim, de um espaço-dispositivo-labirinto de memória e surpresas: sala-museus - os necessários cubículos brancos climatizados - amarrados a becos sem saída, depósitos de embalagens, sotães e porções onde o real e o fictício, a história geral e as obsessões de um artista se mesclam e se excluem uma às outras.

Ferro Madeira, restos, sacos, luzes, obras, fac-símiles, cruzes, máquinas, corpos, sombras, textos, todo o conflito escancarado de dramática e genial obra de Tadeusz kantor.

 

                                                                                                                   Ricardo Muniz Fernandes  

 

Para ouvir outras faixas da playlist da exposição Máquina Tadeusz Kantor:

https://www.youtube.com/playlist?list=PLrUeUNqX2d0cGdnJX744L6XOXMOZI7BYQ 

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